terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Minha Vida é Uma Rede

Não fico fazendo planos
Não gosto de metodismo
Não acho que otimismo
Nos livra de desenganos
Tampouco de outros danos
Danço conforme a dança
Não crio falsa esperança
No pote, não vou com sede
Minha vida é uma rede
Que o destino balança!


Não fico me remoendo
Por coisas pouco importantes
Opiniões discrepantes
À depressão, não me rendo
Desse modo, vou vivendo
Numa firme contradança
Mesmo que em minha andança
Meta a cara na parede
Minha vida é uma rede
Que o destino balança!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

As proezas de Seu Lunga

Seu Lunga é cabra de bem
Porém é muito nervoso
Em perguntas idiotas
O homem perde o gozo
Das faculdades mentais
Vira o próprio satanás
Solta um palavrão trevoso.

Certa feita ele levou
Seu cachorro prum passeio
Seu Zézinho exclamou:
"Um cachorro, eu não creio!"
Seu Lunga teve um entalo
Disse: "não, é um cavalo,
Não está vendo o arreio?"

Lunga foi ao restaurante
Puxou o banco e sentou
Veio um gentil garçon
Com fineza o perguntou:
--Senhor, vai querer comer?
--Não, vim aqui me benzer
No peito, um credo, cruzou.

Lunga foi a padaria
Comprou dois litros de leite
Um velho lhe perguntou:
--A bebida é pro deleite?
Ele disse: "não senhor,
Essa joça eu quero por
Na estante como enfeite".

O velho, ressabiado
Pôs-se logo a se explicar:
--Calma meu nobre senhor
Perguntei por perguntar
Queria puxar conversa
A coisa ficou dispersa
Não precisa se estressar.

Deu a besta fera em Lunga
Mais nervoso ele ficou
--Quer saber pra que é o leite?
Ele ao velho perguntou
--É pra lavar meu cabelo
Costas, ombros, pelo a pelo
Ali mesmo se banhou.

Lunga estava em um boteco
Tomando uma água-ardente
Sua esposa ali chegou
E em meio a toda gente
Disse: -- Lunga, seu safado,
Por que tá embriagado?
Eita cabra inconseqüente!

Lunga chegou até ela
Trôpego a cambalear
Com o bafo de cachaça
Começou a esbravejar:
-- Tomei dois litros de Fanta
Não está vendo, sua anta
O que vim fazer no bar?

Um belo carro de luxo
A famosa limosine
Chegou à concessionária
Tava exposta na vitrine
Lunga disse: --eu quero aquela
Dou até minha costela
Por aquela lamborguine.

O vendedor, à socapa,
Riu do momento bizarro
--Meu senhor, está enganado
Trocou o nome do carro
Lunga, bufando de raiva
Encorporou o Saraiva
Não adimitiu o sarro.

--Olhe aqui fi da broboinca
O automóvel é meu
Vou pagar com minha verba
Se entupa, seu fariseu
Dou o nome que eu quero
Joaquim, Chico ou Homero
Também ponho o de Romeu.

Uma semana depois
Lunga, no estacionamento
Foi saindo com o carro
Até passar por tormento
O alarme disparou
A polícia o abordou
Não teve nem argumento.

Era um carro igual ao dele
Não mudava nem a cor
O modelo, a capota
Pneu e radiador
Calota, marcha e breque
Iguais ao seu calhanbeque
Principalmente o motor.

Lunga tomou providência
Ali, no calor da hora
Pra não mais se confundir
Tirou da bota a espora
Riscou toda a pintura
Disse: --olhe que belezura
Quero ver trocar agora.

Em uma liquidação
De artigos para o lar
Vendia elétro-doméstico
Cama e mesa de jantar
Lunga estava à reboque
Conferindo todo o estoque
Para ver o que levar.

Foi então que o locutor
Percebendo o movimento
Anunciou aparelhos
De umas marcas de sustento
No uso do microfone
Disse: --esse DVD Sony
É último lançamento.

Lunga gritou:-- abestado,
Deixe de ser mentiroso
A Sony não vai fechar
Não seja fantasioso
Diga assim, seu demente
Esse aqui é o mais recente
Senão fica duvidoso.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A epopéia de um caboclo internauta

Sô matutu lá da roça
Só cunheçu minha inxada
Comu farinha i buchada
O meu teto é de paióça
Dento da minha carroça
Levu a ispóra i u gibão
Nas parage du sertão
Cantu i tóco na viola
Eu nun tomo caca-cola
Nem vejo tevelisão.

Mais fui pará in Sun Pálo
Conhicê cidadi grandi
As vista quasi si ixpandi
Quasi tivi um intalu
Prercurei lá us cavalu
Mais achei só artomóvi
I uns inormi imóvi
Chamadu di arranha cér
Mi robáro meu chapér
Mi apontano u revórvi.

Num quiria mais ficá
Lá naqueli mundaré
Peguei o fio e muié
Pra mode saí di lá
Pru meu chapadu vortá
Mais a muié num quis vim
Falô qui si fô assim
Ela num qué mais eu não
Volte lá pro seu sertão
E se asseparô di mim.

Vortei filiz pro meu rancho
Mais num fui cas mão vazia
Passei numa galiria
Quasi qui me adismancho
Cá queli inormi garrancho
Chamado computadô
Adulvinhe seu dotô
Comprei um dele pra eu
Nun sei qui foi qui si deu
Nessi pobri lavradô.

Só sei qui tô aprendeno
A mexê nessi istopô
O tar du computadô
Agora eu tô podeno
Ficu mi correspondeno
Naqueli tar de emeiu
Nun usu mais u correiu
Tenhu orikiut, brog
E um tar di vibifrog
Ninguém mi bota mais freiu.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Tempo tenha paciência

Numa sucessão de fatos
As horas vão se exprimindo
Os dias vão se esvaindo
Os meses são imediatos
Os anos, são como jatos
Transcorrem com muita pressa
Por mais que a gente peça
Rogue e exclame por clemência
Tempo, tenha paciência
E não passe tão depressa.

As lembranças do passado
Ficam em nossa memória
Os áureos tempos de glória,
De um vigor abastado
Viram um amontoado
De uma vivência pregressa
Que pelo mundo atravessa
E expira na consciência
Tempo, tenha paciência
E não passe tão depressa.

Eu me apego a saudade
Do meu tempo de garoto
Quando era apenas um broto
A flor da imaturidade
Hoje a avançada idade
Deixa na cara impressa
Rugas que cronnus não cessa
As marcas da experiência
Tempo, tenha paciência
E não passe tão depressa.