quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

As proezas de Seu Lunga

Seu Lunga é cabra de bem
Porém é muito nervoso
Em perguntas idiotas
O homem perde o gozo
Das faculdades mentais
Vira o próprio satanás
Solta um palavrão trevoso.

Certa feita ele levou
Seu cachorro prum passeio
Seu Zézinho exclamou:
"Um cachorro, eu não creio!"
Seu Lunga teve um entalo
Disse: "não, é um cavalo,
Não está vendo o arreio?"

Lunga foi ao restaurante
Puxou o banco e sentou
Veio um gentil garçon
Com fineza o perguntou:
--Senhor, vai querer comer?
--Não, vim aqui me benzer
No peito, um credo, cruzou.

Lunga foi a padaria
Comprou dois litros de leite
Um velho lhe perguntou:
--A bebida é pro deleite?
Ele disse: "não senhor,
Essa joça eu quero por
Na estante como enfeite".

O velho, ressabiado
Pôs-se logo a se explicar:
--Calma meu nobre senhor
Perguntei por perguntar
Queria puxar conversa
A coisa ficou dispersa
Não precisa se estressar.

Deu a besta fera em Lunga
Mais nervoso ele ficou
--Quer saber pra que é o leite?
Ele ao velho perguntou
--É pra lavar meu cabelo
Costas, ombros, pelo a pelo
Ali mesmo se banhou.

Lunga estava em um boteco
Tomando uma água-ardente
Sua esposa ali chegou
E em meio a toda gente
Disse: -- Lunga, seu safado,
Por que tá embriagado?
Eita cabra inconseqüente!

Lunga chegou até ela
Trôpego a cambalear
Com o bafo de cachaça
Começou a esbravejar:
-- Tomei dois litros de Fanta
Não está vendo, sua anta
O que vim fazer no bar?

Um belo carro de luxo
A famosa limosine
Chegou à concessionária
Tava exposta na vitrine
Lunga disse: --eu quero aquela
Dou até minha costela
Por aquela lamborguine.

O vendedor, à socapa,
Riu do momento bizarro
--Meu senhor, está enganado
Trocou o nome do carro
Lunga, bufando de raiva
Encorporou o Saraiva
Não adimitiu o sarro.

--Olhe aqui fi da broboinca
O automóvel é meu
Vou pagar com minha verba
Se entupa, seu fariseu
Dou o nome que eu quero
Joaquim, Chico ou Homero
Também ponho o de Romeu.

Uma semana depois
Lunga, no estacionamento
Foi saindo com o carro
Até passar por tormento
O alarme disparou
A polícia o abordou
Não teve nem argumento.

Era um carro igual ao dele
Não mudava nem a cor
O modelo, a capota
Pneu e radiador
Calota, marcha e breque
Iguais ao seu calhanbeque
Principalmente o motor.

Lunga tomou providência
Ali, no calor da hora
Pra não mais se confundir
Tirou da bota a espora
Riscou toda a pintura
Disse: --olhe que belezura
Quero ver trocar agora.

Em uma liquidação
De artigos para o lar
Vendia elétro-doméstico
Cama e mesa de jantar
Lunga estava à reboque
Conferindo todo o estoque
Para ver o que levar.

Foi então que o locutor
Percebendo o movimento
Anunciou aparelhos
De umas marcas de sustento
No uso do microfone
Disse: --esse DVD Sony
É último lançamento.

Lunga gritou:-- abestado,
Deixe de ser mentiroso
A Sony não vai fechar
Não seja fantasioso
Diga assim, seu demente
Esse aqui é o mais recente
Senão fica duvidoso.

21 comentários:

Arthurius Maximus disse...

Assisti a uma reportagem, se não me engano no globo rural, sobre o "Seu Lunga" (se é o mesmo personagem) um camarada fantástico que tinha uma venda numa cidade interiorana. Um autêntico "Cabra-Macho" e sem "papas ma língua". Dono de um mal humor folclórico. Mas, tenho certeza que para seus versos, ele abriria um sorriso. Ou será que não? (rs)

Cara, fantástico!

Euzer Lopes disse...

É impressionante sua capacidade de brincar com as palavras. Construir um poema tão autêntico, tão original e ao mesmo tempo tão simples, tão perceptível. Talvez seja isso. A poesia não precisa ser indecifrável para ser uma obra de arte. Basta a simplicidade. E isso você consegue com maestria!
Você não é poeta, não é jornalista, não é escritor. É um arquiteto das palavras.

Climão Tahiti disse...

Gostei desse. Ficou muito bom. =D

É o tipo de coisa que dá pra rimar sem terminar nunca.

Ricardo Cazarino disse...

Muito bacana os movimentos que você faz com as palavras!!!

analise ia disse...

Meu amigo thiaguito
seu Lunga é nervosito.
cuide pra não cair no cambito
por que ele é esquisito.

Quanto a você, escriba?
cabra arretado, artista
continue assim, contista

(Lembrar, que a pesar de estar de férias das crônicas, não estou de férias do web-jornal-laboratório. Afinal, a notícia não tira férias. Esse ano com novidades, estarei cobrindo campeonato baiano e sergipano. Confira!)

Jefferson Barbosa disse...

Eu sorri. É incrivel tua facilidade em escrever. Acho que já até falei isso. Mas em relação a "estórinha": Carinha rude esse heim?!

Abraço!

Flor disse...

Grande figura, o Seu Lunga, uma celebridade, quase uma lenda do nordeste. Adorei!!

Anônimo disse...

Primeiro quero agradecer por ter gostado do meu blog, e quero dizer que achei seu blog também muito legal, e esse texto do Seu Lunga, muito bom também, parabéns!!!

Ricardo Cazarino disse...

Olá...como gostei do teu blog, adicionei as minhas "recomendações" ok, abs

Arthurius Maximus disse...

Passar por aqui é sempre uma oportunidade de encontrar uma boa leitura.

Leda Pacheco disse...

Uauuu!
Muito bom, muito diferente!
Adoro essa literatura de Cordel, tão brasileira, tão de verdade.
Ameiii!

bjosss

http://histerias.zip.net/

Ricardo Cazarino disse...

Olá, tudo bom?
Deixei 2 selos para você no meu blog, depois passa por lá.
Abs

Ricardo Cazarino disse...

Olá, tudo bom?
Deixei 2 selos para você no meu blog, depois passa por lá.
Abs

Unknown disse...

Ola
Thiago passei por aqui
vi sua arte achei muito legal
muito...
criativo mesmo.
Te desejo muito sucesso.
Nesta sua caminhada
bjs

Unknown disse...

seu lunga kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

sexo disse...

Esse seu lunga é zangaddo mesmo.... kkkkkk

Unknown disse...

Aprecio muito sua arte. Mas que coisa excelente. não fosse a beleza da superposição de palavras dava até pra rir..

Princess JunkBox disse...

Adorei estas, em outros sites tem mais, achei muito legal e sou fã de carteirinha do Seu Lunga!

Princess JunkBox disse...

Achei muito legal estas, em outros sites tem outras, achei muito legal e sou fã de carteirinha do Seu Lunga!

Blog_ Bonequinha De Luxoo * disse...

Arthurius Maximus , que data passou ?? por favor quero a resposta dia mes e ano]

Unknown disse...

È verdade